Resposta aos artigos “Pais pressionam médicos para receitar calmantes” e “Vendas de comprimidos para a hiperatividade de crianças volta a aumentar”
Assunto: Esclarecimento público sobre a reportagem “Pais pressionam médicos para receitar calmantes”, publicado no Jornal de Notícias de 31 de março de 2019, e o artigo da Sábado “Vendas de comprimidos para a hiperatividade de crianças volta a aumentar”
Os órgãos de comunicação social têm o papel crucial de informar a população sobre temas socialmente relevantes.
De forma recorrente, a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) tem sido objeto de notícias e reportagens, de que são exemplo recente o artigo “Pais pressionam médicos para receitar calmantes”, publicado no Jornal de Notícias de 31 de março de 2019 e o artigo da página on-line da revista Sábado “Vendas de comprimidos para a hiperatividade de crianças volta a aumentar” que cita o artigo do Jornal de Noticias. A SPDA - Sociedade Portuguesa de Défice de Atenção, enquanto associação científica de profissionais, que integra um amplo espetro de especialistas e investigadores com interesse em desenvolver a atividade na área, entende dever prestar esclarecimentos sobre o tema já que as notícias em causa prestam incorreções científicas que exigem ser, quanto antes, retificadas publicamente.
Entre as principais incorreções e preconceitos, alguns bem presentes nestes artigos, relembramos os mais usados:
O artigo assume como verdades incontornáveis uma série de equívocos e dados sem qualquer sustentação científica, nomeadamente:
- A PHDA é um problema benigno, uma variante do normal;
- Não existe PHDA, existem é crianças mal educadas e pais distraídos;
- A PHDA resulta de incapacidades das famílias e de outros problemas ambientais;
- A PHDA é um problema de força de vontade. Se a criança fizer um esforço, resolve o problema;
- A PHDA é excessivamente diagnosticada e medicada no nosso País;
- Há má prática na medicina que diagnostica crianças normais só para as medicar e eventualmente ter lucros com essa situação;
- Há muita PHDA porque faltam psicólogos nas escolas. Se houvesse o número suficiente destes profissionais resolvia-se o problema e evitava-se o uso de medicação;
- A intervenção não farmacológica (psicológica e educativa, para não falar na hipnose, no Reiki, nas dietas e numa série de outras que nem vale a pena mencionar) é tão eficaz como a medicação;
- A Ritalina [o metilfenidato] é um calmante e atua tornando as crianças “zombies”;
- A medicação tem efeitos secundários terríveis a longo prazo e destrói os cérebros das crianças.
Todos estes mitos foram abordados nas reações ao segmento noticioso “Comprimido da inteligência duplica entre jovens alunos” [REAÇÃO], uma reportagem publicada no Jornal de Notícias de 19 de fevereiro de 2017, e ao artigo de opinião “Hiperatividade e Défice de Atenção – o problema estará nas crianças?” [REAÇÃO] da autoria a vice-presidente da Ordem dos Psicólogos, publicado no jornal on-line Observador a 22 de abril de 2017, que remetemos em anexo.
Somos ainda a esclarecer o seguinte:
- Apesar da extensa investigação genética, neurológica, imagiológica, neuropsicológica e empírica, a PHDA continua a ser alvo duma série de preconceitos, não só por parte da população em geral, mas também de alguns grupos profissionais, muitos deles carregados de incorreções e sensacionalismo.
- O impacto negativo que a difusão deste tipo de informação, sem qualquer base científica, provoca a crianças, jovens e adultos com PHDA e suas famílias é brutal e um entrave ao diagnóstico e tratamento atempado desta patologia, aliás, contribui em muito para o aumento do estigma a ela associado.
- A PHDA é a perturbação do neurodesenvolvimento mais prevalente na criança de idade escolar mas manifesta-se ao longo de todo o ciclo de vida. Segundo os estudos epidemiológicos internacionais, 5-7% da população em idade escolar e 2,5-3% da população adulta. Os dados sobre o consumo de metilfenidato em Portugal apontam para percentagens de cerca de 1,7% de crianças medicadas. Este número é muito inferior ao que se verifica na maior parte dos países ocidentais.
- O estereótipo da PHDA é apresentado como sendo a criança insuportável, irrequieta, impulsiva e mal comportada, sem regras, sem limites e sem força de vontade. O paradigma atual modificou-se completamente e é representado pelo indivíduo, criança, jovem ou adulto, do sexo masculino ou feminino, que apresenta dificuldades crónicas em concentrar-se, iniciar tarefas, usar as funções executivas e modelar de forma adequada as suas emoções.
- Estas dificuldades afetam grande parte das atividades da vida diária e são mais graves e frequentes do que as verificáveis em indivíduos com idade e desenvolvimento semelhantes.
Por fim, informo a comunicação social e os verdadeiramente interessados no tema, que entre os dias 25 e 28 de abril, terá lugar em Lisboa o 7º Congresso Mundial de PHDA, que reunirá em Lisboa os principais investigadores e peritos a nível mundial.
Neste evento, e porque queremos que as famílias e os portadores sejam os primeiros a ser devidamente informados, em colaboração com a Local Organizing Committee do congresso, organizámos o “Dia do Paciente PHDA”, no domingo 28 de abril, de inscrição totalmente gratuita mas obrigatória (www.spda.pt), em que o tema será abordado por um significativo painel de peritos nacionais e internacionais, disponíveis para responder a todas as dúvidas levantadas.
A Direção da SPDA - Sociedade Portuguesa de Défice de Atenção